Rupturas de sentido efetuadas nos corpos: imagens digitais de protestos das ruas e regimes semióticos

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Description

Nesta comunicação, propomos reflexões a partir da investigação em desenvolvimento que possui como objeto de estudo os modos de significação dos corpos que compõem a semiosfera das imagens digitais de protestos anti-opressão. Interessam o corpo e as corporalidades com força acontecimental, em seu estatuto performativo, como textos da cultura capazes de reorganizar linguagens dominantes, tensionar normas e deslocar e produzir rupturas e disrupções em relação aos sentidos hegemônicos associados aos espaços ocupados pelos sujeitos. Esboçamos um gesto em direção à compreensão dos regimes de semioses de nosso tempo, que desafiam as práticas e pesquisas comunicacionais. Ao explorar a performatividade dos corpos que se reúnem na política das ruas como significante unívoco desses movimentos, e o agenciamento corpo-redes-ruas que converte-se em espaços de resistência e insurgência, pretendemos refletir sobre a dimensão corporal que garante a multiplicidade comunicacional das semiosferas de ativismos e resistências contemporâneas. Semioticamente, o corpo e suas imagens tanto reproduzem como podem reinventar as normas dominantes e regulações sobre seus corpos e os espaços que ocupam, sendo as redes digitais de comunicação, neste trabalho, também entendidos como seus espaços de aparição política e subjetiva. Desse modo, o exercício plural e performativo que instaura o corpo no campo político é abordado nesse trabalho, principalmente a partir de Judith Butler e suas investigações recentes sobre a “performatividade pública” em que os corpos reunidos em manifestações públicas, para autora, ao reivindicarem o direito de aparecer publicamente, tanto reafirmam, como transformam o espaço público, produzindo-o.
Assim, o objetivo é questionar, sob uma perspectiva cartográfica deleuze-guattariana como se atualizam hoje os regimes de significação do corpo e como as organizações específicas de sentido dos corpos em imagens digitais de protestos globais marcam a configuração de tensionamentos semióticos e singularidades comunicacionais. Que sistemas semióticos se articulam com elementos do domínio das corporalidades nessa configuração?

Nessa abordagem, a partir de um conjunto de imagens de manifestações tais como a Primavera Latina desde 2019, Coletes Amarelos em França (2018), as Greves estudantis contra o Aquecimento Global (2018-2020), as manifestações Black Lives Matter de 2020, já sob contexto da pandemia covid-19, percebemos o corpo na sua capacidade de emissão e captação de signos, na aptidão semiótica/semiósica que caracteriza seu estatuto flutuante. Corpos-inscrição, corpos-disrupção, corpos que aparecem, operam, instituem e desestabilizam. Adotamos a perspectiva da semiótica da cultura, (Fabbri, 2010; Lotman, 1979, 1996a, 1996b, 1999; Lotman & Uspenski, 2007; Lozano, 2004; Machado, 2007) que centra seu estudo não no signo, mas em concepções específicas como as de semiosfera, texto, fronteiras semióticas, intersecção de sentidos e outras. Pretende-se, com isso, também partilhar nessa comunicação reflexões acerca do processo de investigar os modos de semiotização de ações que se produzem ao nível do desejo, da transubjetivação, em um processo cartográfico em ambiente digital. Em foco, estão as semioses que apontam rupturas de sentidos, continuidades, mas também descontinuidades, imprevisibilidades semióticas, potências performativas e/ou, inclusive, processos de desterritorialização ou esvaziamento sofridos pelos signos das ocupações e da política das ruas que se associam ao corpo.

Palavras-chave: Corpo; Política das ruas; Ruptura de sentidos; Regimes semióticos.
Period12 Apr 2022
Event titleXII Congresso SOPCOM: Disrupção e Comunicação
Event typeOther
LocationLisboa, PortugalShow on map