Description
Na raiz da palavra acaso está a queda, a nossa e a do que se abate sobre nós. Os gregos usam duas palavras para dizer o que acontece: tychē e automaton. Tuchē é da família do verbo tynchano que significa acontecer. Acontecer diz o que nos toca, tange. Mas a origem e proveniência do acaso enquanto aquilo que acontece e se abate sobre nós tem agentes de toda espécie e proveniência. São incontroláveis: a natureza, a necessidade são os outros e nós próprios. A palavra automaton diz o que se gera de forma espontânea, ou por ser rápido e imprevisível ou por não termos capacidade de prever e sermos lentos na antecipação. O acaso acontece sem o esperarmos e sem querermos. O que quer que aconteça permite compreender retroactivamente que estávamos orientados por um determinado sentido, a viver numa determinada direcção. O acaso é um nome de acção que tem de ser perspectivado no seu acontecer. Deixa-nos passivamente vulneráveis ao seu acontecimento como força de bloqueio a que temos de resistir ou então abre-nos a possibilidade de um surf na linha da frente na crista da onda. Mas não será a própria vida — desde o primeiro instante, desde a primeira vez das primeiras vezes, até ao último instante — um mero acaso? Há o ser e não o nada. É assim e não de outra maneira. Quem decidiu a nossa vida, quando e se cada um de nós já se surpreende a si a viver?Period | 22 May 2024 |
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Event title | Passagens: Literatura e Filosofia: “Sabe-se lá quando a sorte é boa ou má.” O acaso na lírica arcaica e no pensamento antigo. |
Event type | Seminar |
Conference number | 10 |
Location | Lisbon , PortugalShow on map |