O Futuro do Conjuntivo - uma Proposta Enunciativa

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Description

Ao contrário do que acontece noutras línguas românicas, o conjuntivo mantém, no português, como refere Fonseca (1994:140), “grande produtividade no âmbito das funções semântico-pragmáticas inerentes à modalização dos enunciados”. Regra geral, os trabalhos sobre o Conjuntivo (cf., para o português, e.o., Fonseca (1970; 1994); Oliveira (2008; 2013); Marques (2016)) mostram que o valor temporal das predicações em que ocorre depende, maioritariamente, da concordância entre orações subordinantes e subordinadas (embora, em
certos contextos, o conjuntivo não seja temporalmente dependente (e.o. Marques (2014) e Marques et al. (2015)) e que as formas de Conjuntivo são, maioritariamente, marcadoras da operação de modalização.
No conjunto das línguas românicas, como é sabido, o Futuro do Conjuntivo (FC), simples e composto, apenas existe em português e em galego e, pela frequência que manifesta no português, neste trabalho pretendo discutir os valores referenciais marcados por essas duas formas verbais, assumindo que a sua natureza semântica heterogénea decorre de operações de localização e determinação diferentes, que legitimam as diversas interpretações associadas aos enunciados em que ocorrem, como se mostra pelos seguintes exemplos:
Se (ainda) houver bilhetes, vou ao concerto do António Zambujo.
Quem for ler o livro, levante a mão.
Quem tiver lido o livro, levante a mão.
Quem ler bons livros, fica mais culto.
Quem tiver lido um livro todas semanas, ganha um prémio.
Se tiveres febre, ficas em casa.
Alguns dos enunciados evidenciam a ambiguidade temporal que pode ocorrer com o FC. Por exemplo, [Se tiveres febre, ficas em casa.] pode ter valor temporal de simultaneidade ou posterioridade em relação ao tempo da enunciação (T0) [Se (agora/logo) / enquanto tiveres febre, ficas/ficarás em casa.], ou ser glosado por [Sempre que tiveres febre, fica em casa.], marcando uma rutura temporal em relação a T
0.
No que respeita a localização temporal dos enunciados, as formas do FC podem estar associadas à marcação do valor de identificação (FC = T0), quando FC tem valor de simultaneidade em relação a T0, de diferenciação (FC ≠ T0), quando FC tem valor de anterioridade ou posterioridade em relação a T0, ou, ainda,valor de rutura (FC ω T0), quando não há localização de FC em relação a T0, correspondendo a um aorístico (cf. Culioli [1978]1980; 1990). Por outro lado, estas formas permitem, também, desencadear valores aspetuais diferenciados (situações télicas/atélicas / valor iterativo/genérico…). Relativamente à modalidade, estas formas desencadeiam valores epistémicos, associados à construção de uma dada relação predicativa como validável (possibilidade, probabilidade) ou valores não epistémicos.
Assim, partindo do princípio de que qualquer categoria é construída numa cadeia de relações com outras, com este trabalho, visa-se analisar e descrever, através de um sistema de representações complexo, como o Tempo, o Aspeto e a Modalidade são categorias indissociáveis, particularmente com o uso das formas do FC. Neste sentido, com base nas propostas da Teoria Formal Enunciativa (e.o., Culioli ([1978] 1980; 1990; 1999), propõe-se uma abordagem transcategorial, visando explicar os valores que resultam da interdependência das formas do FC com outras formas coocorrentes, nas configurações em que se inscrevem, visando descrever e explicar as invariâncias e as deformabilidades associadas a estes dois tempos do Conjuntivo, que desencadeiam os diferentes valores referenciais.
Period24 Oct 2024
Event titleEncontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística
Event typeConference
Conference number40
LocationPonta DelgadaShow on map
Degree of RecognitionNational

Keywords

  • Conjunto
  • verbos