Mas és português ou brasileiro? Atitudes individuais e influência fonológica no contacto entre variedades da língua portuguesa

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Description

Apesar das semelhanças superficiais, especialmente lexicais, as variedades brasileira (PB) e europeia (PE) da língua portuguesa possuem diferenças em todas as componentes gramaticais, inclusivamente na fonética e na fonologia (Mateus & d’Andrade, 2000). Num contexto de imigração, embora não seja estritamente necessária, à partida, a aquisição de traços específicos duma variedade para a comunicação
ocorrer com êxito (Siegel, 2010), ao se depararem com essas diferenças prevalentes no ambiente linguístico em que se encontram, os falantes nativos do PB em Portugal poderão adquirir alguns traços do PE e usá-los ativamente no seu discurso (cf. Markham, 1997). De facto, um dos resultados obtidos pela Tarefa de Avaliação de Sotaque aplicada por Kupisch et al. (2023) foi que os avaliadores nativos do PE das amostras de áudio de imigrantes brasileiros que chegaram a Portugal em idade adulta tiveram menos certeza da origem
desses falantes do que na sua avaliação das amostras de brasileiros não imigrantes.
Importantemente, a perceção de sotaques não nativos por falantes nativos poderá influenciar a experiência que os imigrantes têm na zona de acolhimento. Por exemplo, declarações anónimas proferidas por indivíduos que possuem um sotaque não nativo são, em geral, avaliadas pelos nativos como menos credíveis (Lev-Ari & Keysar, 2010) e não tão bem avaliadas em relação a uma série de características sociais (Lorenzoni, Faccio & Navarrete, 2024). Não se descartando que o mesmo possa ocorrer num contexto de contacto entre o PB e o PE em Portugal, pode-se conjeturar que, para minimizar esse impacto social, alguns imigrantes poderão acomodar a sua fala em direção à fala da zona de acolhimento (cf. Giles, Taylor & Bourhis, 1973). Logo, propôs-se neste estudo avaliar se, entre os falantes nativos do PB que emigraram para Portugal em idade adulta, aqueles indivíduos mais motivados em “falar como um português” também são aqueles que apresentam maior influência da fonologia do PE na sua fala.
Trinta falantes nativos do PE avaliaram se os falantes em 30 amostras de áudio de brasileiros imigrados em Portugal há mais de seis anos, bem como 8 amostras de brasileiros não imigrados e de 12 portugueses (que serviram como controlo), soavam como brasileiros ou portugueses e o quão certos estavam da sua avaliação por meio duma escala de Likert de 1 (brasileiro: tenho a certeza) a 6 (português:
tenho a certeza). Os avaliadores facilmente identificaram os controlos brasileiros (M = 1,17) e portugueses (M = 5,95); já os imigrantes brasileiros foram, em geral, identificados como brasileiros, mas com um grau de certeza signiticativamente mais baixo (M = 1,88, p <.001) comparativamente aos brasileros não imigrados, sendo que apenas nove participantes tiveram uma média individual mais alta do que a média do grupo.
Por meio de diversos modelos de regressão ordinal, detetou-se um efeito positivo entre uma perceção de sotaque do PE e a interação entre a motivação autodeclarada dos falantes e a sua identificação cultural com Portugal, bem como entre aquele fator e o seu desejo em que desconhecidos pensem que são falantes do PE. Ademais, uma idade inicial de exposição ao PE precoce e uma maior exposição a esta
variedade em casa também parecem ser relevantes para a influência fonológica do PE na fala dos imigrantes.
Contudo, uma análise individual dos casos aponta para poucos efeitos de lineraridade entre as variáveis e as avaliações, o que indica que o peso de cada variável será diferente a nível individual, o que ajuda a explicar os diferentes desfechos observados na aquisição de segundo dialeto (cf. Siegel, 2010; Nycz, 2015).
Period25 Oct 2024
Event titleEncontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística
Event typeConference
Conference number40
LocationPonta DelgadaShow on map
Degree of RecognitionNational

Keywords

  • Bidialetalismo
  • Acomodação linguística
  • Fonologia
  • Ganhos sociais