Linguagem inclusiva, representação e estilo

Activity: Talk or presentationOral presentation

Description

As preocupações de natureza não discriminatória e inclusiva são hoje relativamente consensuais, nas nossas sociedades ocidentais – ainda que a indignação e a revolta perante situações tão graves como as que se vivem no Afeganistão, sob o domínio dos talibans, coexista ainda, entre nós, com o drama da violência de género e com o escândalo da disparidade de salários para trabalho igual, para mulheres e homens. Seja como for, a consensualidade inicialmente referida não abrange as questões de linguagem inclusiva – que, pelo contrário, se veem sujeitas a debate e a polémica, quer ao nível da sociedade em geral quer entre linguistas. Neste último caso, o argumento usado prende-se com a independência do sistema da língua, relativamente ao mundo dito real – ou, dito de outra forma, com o facto de a categoria gramatical género ser alheia às questões de sexo e/ou de género social, entendido hoje em dia em sentido não binário (Butler, ([1999]2017)).
A questão pode perspetivar-se de forma diferente quando se assume – como é o nosso caso – uma conceção social da língua, herdada de Voloshinov ([1929]1977), bem como a vertente criadora que Coseriu (1987) atribui à linguagem enquanto energeia. Desenvolvendo e fundamentando estes pontos de vista, pretendemos contribuir para o debate em curso. Mas a comunicação assume ainda, de forma mais específica, dois objetivos. Trata-se, por um lado, de mostrar que a língua – ou a gramática – permite a quem fala ou escreve dizer o que quer; nesse sentido, independentemente de hipotéticas soluções para a marcação de neutralidade (como o recurso a @ ou a X, por exemplo), defenderemos o trabalho de formulação (Coutinho, 2021, no prelo) como recurso para, linguisticamente e de forma explicita, representar o mundo, ou o real, em termos de diversidade de géneros ou de paridade. E admitimos, na sequência de Coseriu (1992), a necessidade de pensar a mudança linguística em direção ao futuro (e não apenas em relação ao passado). Por outro lado, importa relacionar esta mesma questão com o que entendemos como qualidade textual: uma questão clássica em linguística do texto, como a da coesão, enfrenta novos desafios face às exigências da linguagem inclusiva.
Através de desenvolvimento teórico das questões colocadas e recorrendo a exemplos de textos empíricos efetivamente produzidos, na atividade jornalística e na atividade académica (e a manipulações controlados de alguns desses mesmos textos), esperamos mostrar que a linguagem inclusiva corresponde, em última análise, a uma questão de representação e de estilo. E, inversamente, será possível lembrar ou evidenciar que representação e estilo são questões de ordem linguística e textual.
Period9 Dec 2021
Event titleBetween Feminine and Masculine – Language(s) and Society
Event typeConference
Degree of RecognitionInternational

Keywords

  • Inclusão
  • Representação
  • Estilo
  • Linguagem inclusiva
  • Linguística