"Estymarey q guozes boma saude em ComPanhya de vosa may" ― indeterminação em diacronia e segunda pessoa verbal

Activity: Talk or presentationOral presentation

Description

Resumo: "Nesta pequena apresentação, irei refletir sobre a noção de indeterminação do ponto de vista diacrónico. Para tal, e partindo de documentos privados utilizados na minha investigação de doutoramento,centrarei a atenção numa determinada carta pessoal ― a de Bartolomeu da Costa, de 1662. Através desta, procurarei demonstrar como a epistolografia privada é (também) uma fonte relevante para o estudo de indeterminação em linguística. Olharei para os vários instantes de formas ‘indeterminadas’ que ocorrem neste documento e que se podem organizar em dois níveis descritivos e distintos: 1) casos de indeterminação pragmática e 2) casos de ambiguidade que impedem uma leitura clara. Em ambas as situações estamos perante a variação entre formas pronominais ou verbais de segunda pessoa do singular (2sg) e segunda pessoa do plural (2pl) com a respetiva marcação morfológica de segunda pessoa. Porém, se há exemplos de variação inequívoca de utilização da segunda pessoa, como em «Portamto vos Peso yrmã d’alma Poys que foste tamto mal afortunada [...]», outros há em que as formas verbais de segunda pessoa são ambíguas, como casos de infinitivo flexionado e futuro de conjuntivo (mandares).
Pretendo lançar a hipótese de que os exemplos evidentes de variação entre o uso da 2sg ~2pl são motivados por questões de ordem pragmática, isto é, espelham, por um lado, os primeiros sinais de obsolescência do desaparecimento do paradigma da 2pl no tratamento familiar e, por outro, reforçam o paradigma da 2sg no eixo do tratamento íntimo (Cintra 1986). Já os casos de ambiguidade de formas de infinitivo flexionado e futuro do conjuntivo são motivados pela impossibilidade de determinar se estamos perante formas de 2sg ou do 2pl devido à possível queda do -d- em contexto intervocálico, pois o documento em causa inscreve-se no período em que há variação entre formas com o -d- e sem o -d- (Brocardo 2006; Brocardo e Lopes 2016). São formas que constituem, portanto, um desafio ao investigador histórico, dada a impossibilidade de serem estabilizadas.
Period11 Nov 2022
Event title22.º WGT - Workshop em Gramática & Texto: Indeterminação
Event typeConference
LocationLisboa, PortugalShow on map
Degree of RecognitionLocal