Description
O Instituto Nacional de Estatística divulgou recentemente que o cidadão português tem uma esperança média de vida que ronda os 80 anos, devido à melhoria das condições de vidaverificada desde 1960 (cf Pordata). Este aumento impacta não só o cidadão que alcança essa idade longeva, mas também a sociedade onde este se insere.
À luz da Constituição Portuguesa, o envelhecimento é entendido como “um fenómeno multifactorial e multidimensional que envolve aspectos de vária ordem, nomeadamente
demográficos, económicos, sociais e familiares” (Decreto-Lei nº 248/97, de 19 de setembro). Complementarmente, não é possível ignorar que “todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei” (Direitos e Deveres Fundamentais, Artigo 13º), tendo, por isso, direito a condições que respeitem “a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social” (Artigo 72º). Sabemos, no entanto, que, por vezes, os cidadãos que atingem uma idade avançada necessitam de um conjunto de cuidados que a solidariedade familiar e social nem sempre consegue assegurar, surgindo a necessidade de, a par de outras medidas, criar infraestruturas residenciais (lares e seus congéneres) com o objetivo de apoiar parcial ou totalmente esse grupo de pessoas.
Nessa sequência, no presente trabalho, pretendemos analisar um conjunto de exemplares de textos informativos/publicitários usados na divulgação desses espaços, procurando perceber como são comunicadas as suas ofertas, bem como quais as estratégias de informação e persuasão ativadas.
Conscientes de que, do ponto de vista lexical, se verifica uma clara diversidade relativa à (i) denominação das infraestruturas (lar de terceira idade, lar de idosos, residência sénior, casa de repouso, casa de acolhimento de idosos…), e (ii) ao cidadão (pessoa idosa, idoso, pessoa na terceira idade, pessoa mais velha, sénior, utente …), propomo-nos responder às seguintes questões:
- Quais as implicações que as escolhas lexicais associadas à designação do espaço têm sobre
os mecanismos discursivos ativados?
- Quais as características identitárias da pessoa idosa veiculadas nesses textos?
- A quem se dirige a informação: à pessoa idosa e/ou ao familiar?
- As escolhas lexicais e discursivas variam consoante muda o alvo desses textos?
Para a prossecução dos objetivos acima identificados, a investigação que se apresenta segue uma metodologia mista (qualitativa e quantitativa) e enquadra-se numa perspetiva de
análise Léxico-Semântica e Pragmático-Discursiva, ainda que convoque, sempre que necessário, contributos dos estudos sobre a Argumentação.
Os dados do corpus foram recolhidos em diversos websites de infraestruturas residenciais, situadas em Portugal, consultadas no decorrer do ano de 2023.
A partir de uma análise preliminar, colocamos a hipótese de que a denominação da infraestrutura constitui uma pista relativamente ao tipo de público que visa alcançar e, consequentemente, aos mecanismos discursivos ativados. Cremos, assim, que, se o espaço for apelidado de “Residência”, o texto se dirija ao cidadão candidato com um poder financeiro superior, demonstrando preocupação na redação e nos mecanismos de persuasão, enquanto o termo “Lar” parece dirigir-se a uma população com menos recursos financeiros e, consequentemente, estar na base de textos descritivos e impessoais.
Em suma, pretendemos identificar alguns padrões léxico-semânticos e discursivos, procurando compreender quais as estratégias discursivas manipuladas aquando da publicitação
de infraestruturas residenciais para o cidadão ou a sua família e focando as escolhas lexicais assumidas, bem como os efeitos de sentido produzidos.
Period | 27 Oct 2023 |
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Event title | XXXIX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística |
Event type | Conference |
Location | PortugalShow on map |
Degree of Recognition | National |
Keywords
- Pessoa idosa
- Residências Séniores
- Lares de Idosos
- Semântica
- Léxico
- Análise do Discurso
- Pragmática