Energia para ficar: Cabora-Bassa na geopolítica econômica da África Austral

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Como se sabe, o esforço do Regime português para contrariar os “ventos da História” foi multifacetado. Envolveu meios militares, diplomáticos, policiais, propagandísticos, psicossociais, financeiros e, também, socioeconômicos. Pois, como se sabe, é neste último domínio onde radica um dos “nós” do problema, aliás, definidor de toda “situação colonial”: a dependência econômica e a lógica de exploração dos recursos naturais e humanos dos territórios dependentes em beneficio duma minoria composta por metropolitanos, colonos e também alguns colonizados, ao abrigo dos limites políticos do Estado Colonial alicerçado pela Metrópole. Foi perante este estado de coisas que as elites nativas chegaram a mediados do século XX à conclusão —por assim dizer— de que o sistema era irreformável, não cabendo outra alternativa se não a sua destruição, se for preciso de armas na mão. Assim aconteceria em Moçambique em 1964. Os nacionalistas enveredaram em setembro desse ano pelo mesmo caminho que já trilhavam os seus pares angolanos, guineenses e cabo-verdianos, despoletando à guerra também na colônia do Índico. Todavia, em Lisboa a resistência continuava a valer, e apenas alguns meses depois do inicio das ações guerrilheiras da FRELIMO, o Governo foi acarinhando uma ideia que de algum modo poderia vir a criar condições para resistir naquela terra e, de passagem, afirmar também a soberania portuguesa na região austral de África. Tratava-se de uma “alavanca”, de uma “arma” se preferir, que devia ancorar-se a uns 600 km no interior da colónia, para ser mais específicos na garganta de Cabora Bassa (distrito de Tete). Esse projeto devia transformar —em sentido figurado e literal— a força do rio Zambeze na referida energia para permanecer. Com esse fim projetou o Estado Novo a construção ali de um empreendimento hidroelétrico “ciclópico”, que devia vir a ser com o andar do tempo uma peça central do esforço para transformação socioeconômica do território, para a sua defesa e, nos planos mais otimistas, num instrumento de primeira ordem com o que condicionar o comportamento dos vizinhos —a norte e a sul— em relação à permanência da soberania portuguesa na região. Em última instância, um elemento que poderia servir para viabilizar o projeto político do Regime em Moçambique. Com tudo, não chegaria a ser mais do que uma barragem enorme. Gorado em Abril de 1974 o projeto político que estava por trás do empreendimento, este esvaziou-se de sentido. Foi colocado de imediato no pior cenário político, geoeconômico e financeiro possível, precisamente quando a central estava preste a iniciar a fase de produção —mas isto já não é da nossa incumbência.
Period12 Jan 2015
Event titleModernidade e Tradição - Seminário Permanente: IV Série
Event typeSeminar
Conference number11
LocationLisboa, PortugalShow on map