Desenvolvimento de estruturas de subordinação na escrita: estudo longitudinal com crianças de 1.º ciclo

Activity: Talk or presentationOral presentation

Description

Diferentes estudos têm procurado determinar a “maturidade” da escrita, considerando diferentes medidas, entre as quais a produção de estruturas de subordinação (Hudson, 2009).
Em estudos desenvolvidos com várias línguas, em particular o inglês, a subordinação tem sido encarada como domínio sintático indiciador de desenvolvimento da escrita, o que se deve, em grande medida, à associação com a noção de complexidade sintática (Durrant, Brenchley & McCallum, 2021). No caso do português, num estudo que analisou 252 produções narrativas de 126 crianças de 1.º ciclo, Lobo et al. (2022a) verificaram que os conetores subordinativos se tornam mais frequentes do 2.º para o 3.º ano de escolaridade. Além da quantidade, observou-se progressão quanto à diversidade de conetores usados. No início do 3.º ano, os conetores mais usados nas produções escritas foram que (em relativas) / que (em completivas) / quando / para / porque / até que. Também Lobo et. al. (2022b) concluíram, a partir de um corpus de 151 produções escritas de 3.º ano de escolaridade, que as estruturas de subordinação predizem de forma significativa a qualidade global da escrita, medida através da conformidade ao formato textual (narrativa). Ainda assim, há evidência de diferentes perfis de desenvolvimento, com diferenças relevantes na produção de estruturas de subordinação entre crianças da mesma faixa etária (Costa, Cerqueira & Carreto, 2017; Lobo et al. 2022a). Na sequência destes trabalhos, pretende-se aprofundar o desenvolvimento longitudinal da complexidade sintática na escrita
das crianças de 1.º ciclo, considerando estruturas de subordinação produzidas. A investigação sobre o desenvolvimento da escrita em fases iniciais pode contribuir para o desenvolvimento de modelos de produção escrita mais adequados, que tenham em conta não só escritores mais experientes, mas também escritores a iniciar a aprendizagem da escrita (Alamargot & Fayol, 2009).
No presente estudo, foi analisado um conjunto de textos produzidos por 43 crianças falantes monolingues de PE sem diagnóstico de perturbações da linguagem. O corpus, com um
total de 172 textos, inclui textos de quatro momentos distintos do percurso escolar – início e fim dos 2.º e 3.º anos de escolaridade. Estes textos foram obtidos através de uma tarefa de produção escrita induzida a partir de uma sequência de três imagens. Numa primeira análise, foi feito o levantamento dos conetores subordinativos mais frequentes de acordo com Lobo et al. (2022), sendo considerados três tipos de subordinação: (i) orações relativas; (ii) orações completivas finitas e (iii) orações adverbiais (temporais, causais, finais). Partindo do número de estruturas de subordinação produzidas por cada criança, nos quatro momentos analisados, procurou-se também determinar diferentes perfis de desenvolvimento no uso de subordinação na escrita.
No Gráfico 1, pode observar-se uma progressão na produção dos diferentes tipos de estruturas de subordinação ao longo do tempo, sendo expressivo o aumento que ocorre entre
os textos do início e do fim do 2.º ano. Acrescente-se que também a extensão dos textos aumenta, registando-se médias no número de palavras de 34, 71, 63 e 74 nos quatros momentos, respetivamente. Há, contudo, a reportar diferenças nos tipos de subordinação: as relativas ocorrem com maior frequência, podendo observar-se um aumento contínuo no uso destas estruturas; um padrão semelhante é encontrado com as completivas finitas, embora a sua frequência seja menor quando comparada com a de relativas; as adverbiais apresentam um padrão distinto, atingindo um maior número de ocorrências no final do 2.º ano, um menor número no início do 3.º ano, e novamente um aumento no fim deste ano (esta aparente irregularidade no uso de adverbiais deve-se, sobretudo, a um decréscimo de uso das temporais e finais detetado nos textos do início do 3.º ano). Por sua vez, no Gráfico 2, é possível observar o número de ocorrências das estruturas de subordinação em cada texto, nos diferentes momentos, verificando-se que o número de textos em que não é produzida qualquer estrutura de subordinação é mais elevado no início do 2.º ano, diminuindo para menos de metade nos momentos seguintes. Há uma prevalência de textos em que ocorrem 1 a 2 estruturas de subordinação e, em menor número, e sobretudo a partir do fim do 2.º ano, registam-se textos com 3 ou mais estruturas. Partindo destes dados, foi realizada uma análise qualitativa centrada no desenvolvimento de cada uma das 43 crianças incluídas no estudo. Da análise das produções individuais das crianças, podemos identificar diferentes perfis de desenvolvimento (ver exemplos da Tabela 1). Estes exemplos são ilustrativos de percursos distintos: o exemplo 1 ilustra um caso em que a produção das estruturas alvo de análise é nula ou residual nas quatro produções escritas, enquanto no exemplo 3 se verifica uma progressão no uso da subordinação ao longo dos quatro momentos. No exemplo 2, apesar de não haver uma progressão constante de estruturas de subordinação, verifica-se evolução global noutros parâmetros, como o uso da pontuação.
De um modo global, os resultados encontrados estão alinhados com estudos anteriores, mostrando que algumas estruturas de subordinação, como as orações relativas, aumentam
progressivamente ao longo do tempo na escrita das crianças (Perera, 1986, citado por Hudson 2009). Apesar de nem sempre haver uma progressão linear do aumento das estruturas de subordinação em todas as crianças, há evidência de desenvolvimento sintático, que se manifesta no domínio das regras de pontuação, em particular na capacidade de delimitar unidades oracionais. Assim, poder-se-á concluir que a subordinação é um indicador relevante para a caracterização de produções escritas inicias (Lobo 2022b), mas confirmam-se resultados de estudos anteriores que destacam a necessidade de considerar diferentes parâmetros na caracterização do desenvolvimento sintático da escrita (Hudson, 2009).
Period28 Oct 2023
Event titleXXXIX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística
Event typeConference
LocationPortugalShow on map
Degree of RecognitionNational