Description
Esta comunicação oral objetiva investigar de que forma os documentos oficiais orientadores de currículos do ensino secundário e ensino médio, respetivamente, em Portugal e no Brasil, prescrevem o trabalho de docentes de Português como língua primeira. Para isso e tendo em conta os limites desta comunicação, faremos uma análise textual-discursiva da introdução das Aprendizagens Essenciais (AE) dePortuguês dos 10º, 11º e 12º anos (DGE, 2018) e do texto de abertura do item 5.1 da BNCC para o ensino médio (Brasil, 2018), intitulado A área de Linguagens e suas Tecnologias, ambos documentos atualmente em vigor nos dois países. No caso da BNCC-EM, além de Língua Portuguesa, são abordados aspetos relacionados a Arte, Educação Física e Língua Inglesa. Assim, os parágrafos destinados exclusivamente a essas áreas do conhecimento serão excluídos do nosso corpus, a ser possivelmente ampliado em futuro artigo.
Para a análise desses dados, usaremos o modelo da arquitetura textual proposto por Bronckart ([1997] 2012), recorrendo a uma metodologia descendente, isto é, que parte do conteúdo temático para tipos de discurso, eixo de referência temporal, formas verbais, agentividade e modalizações. O intuito é evidenciar as formas e construções linguísticas que desencadeiam a emergência de figuras de ação (Bulea, 2010, 2016) a fim de verificar de que maneira as figuras de ação predominantes condicionam a auto/hetero-representação por parte de docentes de Português nos dois países em causa.
Como referencial teórico, apoiamo-nos tanto no interacionismo sociodiscursivo (ISD) (Bronckart, [1997] 2012) quanto na ergonomia da atividade dos profissionais da educação (Amigues, 2004). De acordo com Amigues (2004), o trabalho do professor é uma atividade instrumentada e direcionada, uma vez que, para agir, esse profissional precisa estabelecer e coordenar relações entre vários objetos constitutivos de sua atividade, como as prescrições, os coletivos, as regras do ofício e as ferramentas. As prescrições são tarefas
que ele deve realizar ditadas pela hierarquia e que, em geral, são vagas, daí porque cada professor define por si, com base nessas prescrições oficiais, o que vai prescrever aos seus alunos.
No quadro do ISD, o trabalho é considerado como uma forma de agir, unidade de análise do funcionamento humano, que, no entanto, não pode ser apreendida por meio da observação direta das condutas de quem realiza o trabalho, mas por meio das representações sobre esse agir que são construídas nos textos produzidos. Assim, para compreendermos como as AE e a BNCC-EM prescrevem o trabalho de quem ensina Português, julgamos importante compreender as representações que socialmente se constroem sobre este grupo profissional, considerando tanto os aspetos relativos ao agir prescritivo que se realiza pelo e no próprio texto desses documentos quanto as questões que incidem sobre as diferentes dimensões do trabalho que é prescrito (Bronckart e Machado, 2004).
Os resultados preliminares apontam que, em ambos os documentos, apesar de dirigidos principalmente a docentes de Português, muito raramente tais docentes aparecem como atoras ou atores a quem poderíamos imputar capacidades, motivos ou intenções. Assim, era expectável que eles fossem referenciados como sujeitos da própria ação. No entanto, o uso abundante de fatores externos na posição de
sujeito, a exemplo do que ocorre em “a disciplina de Português permitirá aos alunos…” (AE, p. 2) ou “a abundância de informações e produções requer…” (BNCC-EM, p. 479), atribuindo-lhes ações normalmente realizadas por seres humanos, parece sugerir que tais fatores são os reais atores de um trabalho que tem a ver com o desenvolvimento de competências por parte de quem aprende.
Period | 24 Oct 2024 |
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Event title | Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística |
Event type | Conference |
Conference number | 40 |
Location | Ponta DelgadaShow on map |
Degree of Recognition | National |