Description
Diacronicamente, o português brasileiro (PB) procedeu à substituição dos pronomes clíticos acusativos de terceira pessoa (ClA3) por pronomes fortes (Duarte, 2020; Luís & Kaiser, 2016). Porém, eles não desapareceram por completo: embora não sejam adquiridos durante os primeiros anos do desenvolvimento linguístico (cf. Kato, 2005), são alvo de ensino da matriz curricular brasileira (Kato, Cyrino & Corrêa, 2009). Contudo, os ClA3 parecem comportar-se de maneira distinta aos restantes clíticos (os quais ocorrem em próclise ao verbo principal). Nunes (2015) sugere que tenham sido reanalisados como marcas de concordância de objeto, dada a tendência que esses ClA3 têm de se adjungirem em ênclise a formas verbais que independentemente podem levar marcas de concordância (e.g., verbos no infinitivo), de ocorrerem em próclise a verbos cuja posição para a concordância de sujeito esteja ocupada (e.g., verbos no infinitivo pessoal) e de não ocorrerem adjungidos a verbos no particípio ou no gerúndio (por não possuírem posição para a concordância). Assim, de modo que se pudesse controlar determinadas variáveis, objetivou-se recolher dados por meio duma tarefa experimental relativamente às idiossincrasias dos ClA3 no PB assumidas por Nunes (2015).Os 48 participantes escolarizados nativos do PB tiveram de reescrever 40 frases inserindo uma palavra que estava entre parênteses no fim de cada uma delas. Os 16 itens de teste continham entre parênteses ou o ClA3 “o”, ou o clítico “me”, distribuídos em quatro contextos: orações infinitivas com o verbo no infinitivo impessoal (IMP), orações infinitivas com o verbo no infinitivo pessoal (PES), perífrases verbais no futuro (FUT) e perífrases verbais no pretérito mais-que-perfeito (PRT). A tarefa procurava perceber se os falantes distinguem o ClA3 “o” do clítico “me”, atribuindo-lhes diferentes distribuições sintáticas nos contextos abordados.
Observaram-se diferenças no uso do ClA3 “o” e do clítico “me”, tendo este seguido a tendência dos demais clíticos do PB, surgindo, quase que exclusivamente, em próclise ao verbo de que é argumento. A ênclise foi mais produtiva com o ClA3, nomeadamente quando o verbo estava no infinitivo nos contextos IMP (59,6%) e FUT (46,5%). Porém, a próclise ao verbo principal também foi uma opção amplamente utilizada pelos participantes, mesmo nos contextos em que Nunes (2015) não a previa: 40,4% no contexto IMP, 40,7% no contexto FUT e 52,2% no contexto PRT.
À primeira vista, a hipótese aventada por Nunes (2015) não parece ter encontrado respaldo nos dados aqui obtidos. Contudo, salienta-se a diferença no comportamento dos falantes concernente aos dois pronomes utilizados neste estudo, o que parece indicar que são efetivamente elementos de natureza distinta. Embora não se possa avançar neste momento a natureza desses elementos, eles não parecem ser marcas de concordância de objeto, sendo tal assunção suportada pelos resultados deste estudo, pelo facto de na língua portuguesa não existirem ocorrências de marcas de concordância que não tenham
uma realização sufixal (sendo, portanto, estranha a realização pré-verbal) e pelo facto de que a concordância de sujeito e a de objeto devem ocupar posições funcionais distintas na estrutura da frase (não impossibilitando a sua co-ocorrência).
Period | 30 Jun 2023 |
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Event title | XVII Fórum de Partilha Linguística / 17th Forum for Linguistic Sharing |
Event type | Conference |
Location | PortugalShow on map |
Degree of Recognition | International |
Keywords
- Português brasileiro
- pronomes clíticos acusativos de terceira pessoa
- concordância de objeto
- linguística experimental
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Livro de resumos. XVII Fórum de Partilha Linguística
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